quarta-feira, 15 de junho de 2016

MOSAICO (poema)



M O S A I C O



Algumas vezes os olhos não veem.
Mas a psique percebe
o que está muito além...
Mínimos detalhes, olhares, palavras,
atos voluntários, e falhos, também. 
Na sincronia dos fatos,
é desnecessário “ver para crer”.
Os sinais são captados e encaixados,
como sutis peças num mosaico.
E na tradução da alma, com calma,
imagens diversas vão se formando... 
De sonhos, amor, dor, desilusão,
e outras infindas, que vêm de roldão.
Ora sorrisos, ora lágrimas. 
Ora irrefutável clarivisão
que irrompe na tela da vida.
Revelando paisagem de encontro,
ou cenário de despedida...


Andra Valladares
14/06/2016

terça-feira, 3 de maio de 2016

(EN)CANTAR (miniconto)



(EN)CANTAR



Tentando controlar a respiração descompassada, ela segue, da coxia para o palco. Sente na boca um estranho sabor agridoce decorrente da mistura do suspense com a adrenalina.

Os holofotes acendem. Sente-se frágil. Iluminada. Sozinha. No centro de tudo, enfrentando a plateia. Cada mínimo gesto, sob a mira de centenas de olhares a desnudá-la o corpo, a alma e o coração. Exposta sob todos os ângulos e sentidos. Seu corpo inteiro pulsa.

Iniciam os primeiros acordes e ela desperta do torpor inicial. Dá um passo à frente, controla o diafragma, segura o microfone. Inspira profundamente.

A música, invadindo seus ouvidos, lhe traz o bálsamo da leveza... Eis que chega a hora de suplantar a insegurança e encantar. Fecha os olhos. Entra no seu universo interior. Ali está segura. Não precisa mais pensar, tornou-se um instrumento de sopro. Abre a boca e solta o som vibrante que lhe vem ecoando por todo o corpo. Estremece. Todos os seus pelos eriçam. Lá dos recônditos da alma, acende a luz que lhe traduz a certeza de que nasceu para cantar.

Ali, sozinha e hermética, ela enxerga o tom de cada nota que lhe escapa. Vai colorindo os sons, acendendo palavras, traduzindo ritmos e libertando-se em gestos. 

Então, já pode abrir os olhos sem receio. Agora brilha mais que os holofotes. 


Andra Valladares
06/03/2015





terça-feira, 26 de abril de 2016

Incompatibilidade de Gêneros



INCOMPATIBILIDADE DE GÊNEROS

Nos obscuros recônditos do ego,
apenas uma sombra sob os pés, ele almejava.
Para seguir em par e paz, na sua estrada.
E ela fazia o que sabia. Então, brilhava...
Não era sombra, nem escuridão,
mas fragmento de constelação.
Naturalmente reluzia... Era amor, calor, poesia!
Assim, nos desencontros, se afastaram.
Cada qual no seu caminho, prosseguiu.
Na luz que ela emanava, sua sombra ele viu.
Ela avançou na escuridão, luzindo sempre.
E sorriu ao perceber que, logo em frente,
outra luz a aguardava, mansamente...


Texto: Andra Valladares
** todos os direitos reservados **

Imagem obtida na internet, autor desconhecido

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segunda-feira, 4 de abril de 2016

SIGNOS

SIGNOS


Você me disse que era fogo
e que em ti, tudo ardia...
Suas chamas aumentavam
no embalo da noite fria.

Mas querido, eu sou do ar...
Ora corro em demasia,
ora sou brisa, poesia,
ou posso tudo arrasar...

Ah... O ar é imune à chama.
Mas o contrário, meu bem,
é onde tudo funciona.
Pois o ar, o fogo inflama...

Com um bom sopro, ele atiça.
Se for bastante, incendeia.
Se o ar acaba, do fogo,
não resta sequer a brasa!

Traz seu fogo! Que lhe dou o ar!
Na medida exata, para que arda e sinta...
Meus beijos de brisa, acendendo a chama.
Minhas mãos de vento, atiçando o fogo.

E o meu furacão, em mil fagulhas,
Desfazendo-te... Arrancando-te do chão.
E te arrastando ao Paraíso
sublime e ardente da paixão.



Andra Valladares

segunda-feira, 21 de março de 2016

A NOITE PERFEITA



Sabe aquela noite perfeita?! Ah... Ontem eu tive uma e vou contar aqui para quem quiser ler.

Para termos uma noite perfeita, precisamos estar na companhia de alguém especial. E isso eu tive...   

Estava em casa, me sentindo um pouco angustiada, e resolvi caminhar. A noite estava muito agradável, brisa fresca, um belo luar, a água do mar transparente. Caminhei bem na beirinha da praia, com os pés na água e cantando. Pois é, ontem eu cantei pra mim... E foi tão bom! Foram várias músicas da MPB, alternando também com o mantra budista "Om Mani Padme Hum", com uma melodia que eu mesma criei. Ficou parecendo uma canção de ninar e isso me acalmou.

Por aproximadamente uma hora, caminhei e cantei, e já estava me sentindo melhor depois disso. Mas também necessitava silenciar, minha cabeça estava acelerada, repleta de pensamentos dos mais diversos. 

Naquele horário, a maré estava bem baixa. De repente, cheguei perto de uma pedra e, simplesmente, me conectei àquele lugar perfeito. Dava para ver as algas e a areia sob a água límpida. Assim, quando dei por mim, havia iniciado uma meditação em pé, com a água do mar batendo no meio das canelas. 

Rezei, semicerrei os olhos e fui mentalizando que cada onda que chegava até mim trazia boas energias, enquanto as águas que retornavam carregavam as energias ruins. Fiquei aproximadamente quinze minutos nesse estado meditativo. A água estava transparente e numa temperatura tão boa que, no final, a minha vontade era de mergulhar com roupa e tudo.

Esse momento foi bastante agradável e proveitoso, me senti bem mais leve. Contudo, ainda não havia conseguido atingir o silêncio interior. 

Então, procurei outro lugar agradável para sentar e iniciei a meditação na posição tradicional de meio lótus. Assim permaneci por uns quarenta minutos. Foi bastante custoso. Minha mente parecia não querer contribuir, a todo momento um pensamento oportunista atrapalhava minha conexão. Todavia, não desisti. Depois de um bom tempo, finalmente, consegui silenciar.

Apenas quem já meditou ao ponto de alcançar esse silêncio interior, pode ter ideia da profunda sensação de paz que brota na alma quando conseguimos atingi-lo. Todos os problemas são dissolvidos, passa existir apenas o momento presente. Contudo, um momento presente que quebra as barreiras do tempo e do espaço. Além disso, também ocorre a indescritível sensação de sentir-se conectado ao “todo” que nos envolve. 

Um momento de meditação profunda é um resgate, um contato com nosso Eu Superior.  Não é uma visão fantasiosa da realidade. É a realidade sob uma outra ótica de ver e sentir o mundo. É sentir a vida pulsante que reside em nós e geralmente nem percebemos.

Assim foi essa noite perfeita. Um precioso momento de diálogo com minha essência, num breve contato com o meu Eu Superior.

Voltei para casa leve, leve... Sentindo-me plena e em paz. 


"As palavras podem dizer muito, mas o silêncio é um saber infindo..."  

Eu amo o silêncio. 

Namastê!

Andra Valladares



sábado, 12 de março de 2016

Radicalismo x Coerência


Texto: Andra Valladares (Sê Mínima)
Imagem obtida na internet, autor desconhecido.
** todos os direitos reservados **

sexta-feira, 11 de março de 2016

NEM TUDO É MATÉRIA

FOTOGRAFIA: VINÍCIUS MARTINS FERREIRA



NEM TUDO É MATÉRIA


Ah, essa química...

Transformou minha biologia,

refutando as probabilidades matemáticas.

E me fez romper com as leis da física,

retrocedendo os ponteiros do tempo.


No enredo dessa história,

mapeando nossa geografia,

no percurso das línguas, vem...

Tecendo nova filosofia

em gestos, olhares, sorrisos,

a cada palavra e silêncio.


Ah, essa química... Alquímica...

Que transmuta areia em vento,

rocha em ouro, gelo em fogo...

Revela que nem todo o conhecimento,

é capaz de traduzir, mensurar ou explicar,

o grande enigma do amor.



Andra Valladares

** todos os direitos reservados**

quarta-feira, 9 de março de 2016

A FÊMEA QUE ME HABITA



A FÊMEA QUE ME HABITA



Talvez possa vir como a brisa...

Ou, quem sabe, um furacão?

Num dia, desabrochar flor.

Noutro, bala de canhão.



Com garras e dentes de onça,

disfarçada de gatinha.

Empodero-me mulherão,

e às vezes, basta-me a mulherzinha.



Se a Grande Mãe me habita

com útero e seios de luz.

Sua sombra insana transmuta-me

em devoradora, à contraluz.



Tão inconstante e sensível,

rimando até amor com dor.

Sou mulher, mistério indizível.

Um ser místico, mítico, incrível,

de inestimável valor.




Andra Valladares
08/03/2016


** TODOS OS DIREITOS RESERVADOS**


segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Abraço (poema minimalista)




Essa foi uma das publicações da página Sê Minima deste ano. Trata-se de uma página de minicontos e poemas minimalistas que criei no facebook.

Gostou?  Acesse pelo link:  https://www.facebook.com/seminima1/

domingo, 28 de fevereiro de 2016

O PRÓXIMO E O DISTANTE



O PRÓXIMO E O DISTANTE

O sol é calor, é dia! 
Estrelas? São astros brilhantes.
O sol é único, é vida!
Estrelas? Infindos enfeites.

Nenhuma verdade é exata,
distrai-nos a ilusão.
Para cada ponto de vista,
há outros tantos em questão...

Apesar de estarmos tão perto,
a ponto de não percebê-la.
Para olhos de outros mundos,
o sol é uma mínima estrela.

Andra Valladares




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Os Quatro Elementos




Se queres ar,
solto mil risos
pra enlevar.

Se queres terra,
te oferto o peito
pra cultivar.

Se queres água,
entreabro os lábios
pra navegar.

Se queres fogo,
meu corpo inteiro

pra incendiar.


Andra Valladares
** todos os direitos reservados**

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A MORTE



Ele costumava ter sonhos premonitórios. Naquela noite, sonhou que estava olhando a face da morte. Acordou assustado e a ideia não lhe saiu da cabeça. Resolveu mudar seu itinerário para o trabalho. Pegou outro ônibus. Passou por um beco. Então, deu de cara com "ela" - a Ceifadora -  pintada no muro. "Ainda bem que te encontrei aqui", suspirou aliviado. Ajoelhou-se e agradeceu ao Criador por mais um dia.


Andra Valladares
13/04/2015




(PROJETO DE EXPRESSÃO VISUAL E TEXTUAL -  VOZES URBANAS. TRÊS OLHARES E UM FOCO: O CENTRO DE VITÓRIA.)