segunda-feira, 19 de março de 2012

Cecília e Eu




Ontem à noite tive ótimos momentos com Cecília. A cada releitura novas sensações e inspirações.


Esse livro eu não dou, não empresto e nem alugo! Mas como sou boazinha, repartirei três poemas dele com vocês. (rs)



CANÇÃO DE ALTA NOITE

Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar... Perder seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.

Porque o poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.



CANÇÃO MÍNIMA

No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.



CANÇÃO DO AMOR-PERFEITO

O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco, 
vestígio do musgo humano,
da densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.

sábado, 17 de março de 2012

CD ANDRA VALLADARES - CADERNO PENSAR



Amigos, 

Informo que uma crítica muito positiva sobre o meu CD foi escrita por Ricardo Salvalaio publicada no Caderno Pensar do Jornal A Gazeta (Vitória/ES) do dia 17/03/2011.

matéria completa pode ser lida através da versão on line do Caderno Pensar que pode ser acessada clicando sobre no nome da publicação ou digitando o seguinte endereço: http://issuu.com/leoquarto/docs/pensar-17-03-12

Um Novo Sabor (crônica)




Na minha infância aprendi uma importante lição da qual ainda me recordo como se fosse ontem. Eu tinha aproximadamente nove anos de idade e estava viajando com minha família para Governador Valadares, cidade onde morava minha avó. Fizemos uma parada numa lanchonete de uma cidade do interior de Minas Gerais e meu pai anunciou que iríamos experimentar uma coisa nova. Quando olhei as opções de salgados, disse prontamente que queria uma coxinha, pois era meu preferido, mas meu pai disse que daquela vez eu comeria outra coisa. Fiquei emburrada e disse que não queria comer “aquilo” que ele estava comprando.

Então ele me perguntou se eu sabia como se chamava o salgado que ele acabara de comprar e eu respondi que não sabia, mas não havia gostado da “cara” dele. Ele argumentou que eu não poderia afirmar que não gostava de algo que sequer conhecia e que nunca havia provado me informou que “aquilo” era um quitute muito apreciado em Minas Gerais.

Fiquei emburrada, olhando para aquela coisa na minha frente que não havia despertado o mínimo interesse ao meu estômago infantil.

Contudo, observei que meus irmãos estavam comendo “aquilo” e pareciam estar adorando e minha mãe também. Olhei em volta e constatei que várias pessoas comiam também “aquilo” com uma “boca boa”, então minha curiosidade foi maior que minha vontade de manter o emburramento e resolvi que daria uma mordidinha bem pequenininha para ver se “aquilo” era bom mesmo. Primeiro cheirei e comecei achar interessante, mordi uma lasquinha e até achei bom, então resolvi dar uma mordida de verdade e entrei em um mundo novo de sabor e textura. A casquinha levemente crocante que contrastava com o meio macio, o aroma... Ai! Como era bom “aquilo” que eu estava desprezando sem saber o que era.

Observando minha expressão de deleite, meu pai perguntou: E então, gostou? 
 Balançando a cabeça, respondi afirmativamente que sim e depois perguntei como se chamava “aquilo”, então ele me respondeu: - É um pão de queijo!

O pão de queijo é bastante comum hoje em dia, todo mundo conhece e é vendido em qualquer lugar, inclusive nos supermercados, mas naquela época não. Depois daquele dia, ficava me perguntando quanto iria novamente experimentar “aquilo”. Até mesmo hoje ainda procuro aquele sabor que transformou minha maneira de pensar e que ocorreu num dia comum, num lugar comum do qual nem me recordo o nome. Depois disso comi incontáveis pães de queijo, mas nenhum jamais teve o mesmo sabor “daquilo”.

(Andra Valladares)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Lua Cheia



Lua Cheia

Oh, musa da noite!
Tão branca e esquiva
tão crua e suave,
tão nua e altiva,
tão solta no espaço...

Grávida de luz,
espectro no breu.
Na dança dos véus,
imune ao tempo...

Atraindo,
seduzindo,
refulgindo
solitude 
na imensidão.

(Andra Valladares)


(*) poema escrito entre 06 e 07 de março de 2012, noites de lua cheia.

terça-feira, 6 de março de 2012

CANÇÃO DO AGRESTE (poesia e música)





CANÇÃO DO AGRESTE


Enxada ao ombro,
peso da vida...
Na minha lida,
quente é o chão.
A terra é morta,
o sol castiga.
Meus pés descalços
sofrem na estrada.
Felicidade?!
Não tenho não...

Meus passos tecem
triste destino,
desde menino
levo essa cruz...
A seca é “braba”,
maltrata a gente,
seja clemente
meu bom Jesus!
Seja clemente
com essa gente
que no sertão
vive a lutar.
Mande a chuva
fecundar a terra,
p'ra esse tormento
amenizar...


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(2ª parte)

 
Às vezes penso
que na cidade
teria chance
de me aprumar...
Mas sem estudo,
nenhum amparo,
minha amarga sorte
não irá mudar...
Vi muitos "cabras"
que, em vão, partiram
deixando os ninhos
ao "Deus-dará"...
Mulheres, filhos,
sem paz nem pão,
na atroz espera
de dias bons.
Sou "homem-bicho"
desse agreste,
que cava a sorte
co'as próprias mãos.
Tosco, sedento,
porém honrado -
aos meus não deixo
à danação!
Por isso clamo,
meu bom Senhor,
p'rá esse pedido
me agraciar :
Mande a chuva
fecundar a terra
p'ro meu trabalho
frutificar... 


(Andra Valladares)





UM POUCO DA HISTÓRIA DESTE POEMA:

(*) Este poema foi inspirado na música A FORÇA QUE NUNCA SECA (Chico César e Vanessa da Mata) e escrito em duas etapas, a primeira parte em março de 2004. O poema foi vencedor do Concurso Literário "Maria Stela Novaes - 2005", organizado pela Academia Feminina Espírito-Santense de Letras. Fiz apenas uma pequena alteração nos dois últimos versos da primeira parte para dar continuidade ao poema. A segunda parte escrevi em outubro/2006, ou seja, mais de dois anos depois.

O poema foi publicado nos seguintes sites literários:



O POEMA "CANÇÃO DO AGRESTE" FOI , AINDA, PUBLICADO NA REVISTA VIRTUAL DO PORTAL "CÁ ESTAMOS NÓS" (CEN) EM 08/10/2009. COMEMORAÇÃO AO "DIA DO NORDESTINO BRASILEIRO"O PORTAL CEN É UM SITE PORTUGUÊS QUE REÚNE ESCRITORES LUSÓFONOS DE VÁRIOS PAÍSES.


http://www.caestamosnos.org/Dia_do_Nordestino_Brasileiro/Revista.html


EM OUTUBRO DE 2010 "CANÇÃO DO AGRESTE" TORNOU-SE TAMBÉM LETRA DE MÚSICA COM MELODIA COMPOSTA POR MEU AMIGO, O CANTOR E COMPOSITOR BARBOSA LIMA. 


ATUALMENTE ESSA MÚSICA FAZ PARTE DO REPERTÓRIO DO GRUPO LÍTERO-MUSICAL "VOZES DA VILA", COMPOSTO POR: ANDRA VALLADARES, BARBOSA LIMA, HORACIO XAVIER E KARLA SKARINE.


EM NOVEMBRO/2011, OS ALUNOS DA EMEF PADRE ANCHIETA (VITÓRIA/ES)  FIZERAM UM TRABALHO DE ESTUDO DE ALGUMAS LETRAS DE MÚSICA E POEMAS DO GRUPO VOZES DA VILA E DENTRE ELES TAMBÉM ESTAVA "CANÇÃO DO AGRESTE". ASSIM OS ALUNOS  PRODUZIRAM DESENHOS SOBRE O TEXTO E AS IMAGENS AQUI POSTADAS SÃO ALGUNS DOS TRABALHOS DOS ALUNOS DA INSTITUIÇÃO. 





PARA ASSISTIR O VIDEO DA MÚSICA CANÇÃO DO AGRESTE NO YOUTUBE, CLIQUE AQUI