terça-feira, 18 de novembro de 2014

terça-feira, 11 de novembro de 2014

NATURALMENTE





NATURALMENTE


Ah, esse poeta...
Sem verso, sem rima.
Do improviso, do riso,
da alma, da fala,
jorrando poesia d´água cristalina.

Caudaloso rio,
ora remanso, ora cachoeira
ora sumidouro, ora ribeira,
de palavras líquidas e frescas.
Ah, esse poeta... 

Com frases retas
certeiras feito flechas.
Espírito dourado, sorriso iluminado.
Olhar que o meu coração desperta.
Ah, esse poeta...


(Andra Valladares)

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

LIBERDADE (acróstico)



Liberto-me das dores, dissabores e temores.
Invariavelmente amando, sem comandos ou desmandos. 
Brincando feito menina, cristalina, minha sina. 
E vivendo sem receios, devaneios, meus anseios.
Recordando minhas histórias, sendo inglórias ou vitórias. 
Dando o que me é mais belo, meus mistérios, meus castelos.
A quem queira receber, se envolver, merecer...
Deus! Me guie aos labirintos dos instintos mais bonitos...
Em meu peito semeando sentimentos, repletos de afetos!


(Andra Valladares)
27/10/2014

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

CANÇÃO DO AMOR SEM RUMO




CANÇÃO DO AMOR SEM RUMO


Nada que te diga fará com que entendas,
esse sentimento que invadiu meu peito.
Que ora me acalenta, ora me aflige
e me torna instável desse jeito.

Se me aproximo, tu te afastas.
Se me afasto, logo, tu te achegas.
O que devo fazer? Ficar parada?
Será que é isso mesmo que desejas?

Uma coisa é certa, eu bem sei,
que o tempo urge contra nós.
Temos mais passado que futuro
e se tu não ouvires minha voz,
hás de me ver acenando adeus...

Baby, meu desejo não é esse!
E assim, não temo, confessar:
Eu queria mesmo, desnudar-me
de corpo, alma e mergulhar... 
Nesse verde mar do seu olhar.


( Mas se essa canção não te agradar.
Se nenhum suspiro do teu peito arrancar.
Paciência, baby... Sinto te dizer: 
Que tu gostas mesmo é de sofrer! )


(Andra Valladares)
23/10/2014


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

EU E O VENTO





Eu e o Vento

Então, sopra o vento,
me  arrasta, me inspira.
Desdobra-me a vida,
do avesso me vira.

Entra em parafuso,
minh’alma permeia.
Desmancha as juras
deixadas na areia...

No sopro do vento,
vagueia um alento.
Minha voz ecoa,
desafia o tempo...

Na trama intangível,
bordo sentimentos.
Pois, ora me invento,
ora, desinvento...


(Andra Valladares)
09/10/2014

sábado, 4 de outubro de 2014

A PRIMEIRA FLOR DA PRIMAVERA






A PRIMEIRA FLOR DA PRIMAVERA



Ah... A primavera... Das estações a mais bela! 
E a Deusa Vênus, inspirada, coloriu todo o jardim!...


Uma flor especial brotou.
Seu botão aveludado
exibia aroma, tons,
da vida tão casta e rara
que aos poucos desabrochava...

Pétalas róseas, delicadas,
que lentamente se abriam;
destacavam um centro vívido
de um carmim encantador,
pulsando... No âmago da flor.
Quanta magia e esplendor!

Por grata surpresa, a flor,
mostrou-se por mim cativa.
Sem motivos, sem pudor,
bem diante dos meus olhos,
poeticamente, desabrochou!
E eu, tão incrédulo estava,
que mantive-me inerte,
enquanto a observava...

E vieram as abelhas
em busca do seu néctar...
E vieram as borboletas,
encantar os olhos da flor.
E vieram os colibris
beijar-lhe os lábios carmim...

Ela, altiva e serena, tudo aquilo suportava...
E enfim, quando a saudade apertava,
voltava-se para mim...
Com um olhar terno, encantador,
e um colorido sorriso de flor.

Sem tocá-la, sem regá-la.
Sem protegê-la do sol,
ou retirar as lagartas
que em seu caule subiam.
Fiquei ao seu lado, pensando...
Qual seria o melhor momento
para cuidar daquela flor?

Tão bela e independente,
tão completa e desejada,
parecida não precisar
ser cuidada por ninguém.
Ela mesma se bastava...
Era uma flor sem igual!
Seria uma flor imortal?

Assim, passaram-se os meses...
A flor, ainda tão bela,
suportava o sol, a chuva,
e o assédio que atraía...
E eu, da minha janela,
às vezes lhe acenava,
às vezes lhe sorria.

Até que um dia, de repente,
não mais enxerguei a flor.
Ao adentrar no jardim,
não senti o seu aroma,
não vi o seu intenso brilho,
em tons rosa e carmim...


Quando cheguei ao canteiro,
vi a flor, ali, caída...
Murcha, pálida, desvalida,
sem suas cores vibrantes.
Era um espectro de flor,
um corpo inerte, sem vida...

Com o coração aos pedaços,
ajoelhei-me ao seu lado.
Reguei-a com minhas lágrimas
e a confortei nos meus braços...

Supliquei, em tom incontido:
“Não se vá! Diga-me o seu nome, flor...”
Abrindo os olhos opacos,
num fio de voz e em torpor,
ela respondeu, partindo...

“Eu me chamava Amor...”


(Andra Valladares)
04/10/2014

terça-feira, 30 de setembro de 2014

ACALANTO





ACALANTO


Queria niná-lo, menino,
cantando uma canção de amor,
daquelas que o embalaria
num sonho enternecedor.

E assim, quando cerrasse os olhos,
eu choraria, sem querer.
Com as mãos coladas no seu peito,
sentindo o coração bater...

No seu descanso, o meu encanto,
ao vê-lo dormir nos meus braços.
Com os meus carinhos, o seu sono
seria livre de cansaço...

Queria niná-lo, meu bem,
ser seu remanso, seu abrigo.
Tocar de leve os seus cabelos,
fazer você sonhar comigo.


(Andra Valladares)

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

AMOR MAIOR


Amor Maior

Reencontrei meu grande amor,
aquele amor tão sonhado!
Ao qual entrego, sem temor,
meu coração malogrado.

O amor que esqueci na infância,
mas que, enfim, resgatei.
E me faz domar a ânsia
que em outro amor projetei.

O amor que não me divide.
O amor que não me maltrata.
O amor que me quer ver livre...
O amor que me arrebata!

Ah... E ele já me prediz,
o que nenhum prometeu.
Que há de me fazer feliz!...
Esse grande amor, sou Eu!

(Andra Valladares) 

29/09/2014

domingo, 28 de setembro de 2014

O VIOLÃO






O VIOLÃO

Rompendo velhos padrões, o violão ganhou novos elementos, coloridas de fitas de seda foram inseridas entre as cordas vibrantes de nailon.  

O instrumento ganhou mais vida e beleza. Mesmo desentoando, ganhou mais leveza...

Agora já não soa um som tão puro, o melodioso som das cordas vibrantes. Passou a emitir também o
som inaudível das cores, mesmo quando em silêncio. O som que embala os olhos...

Sensivelmente, ressoa na alma, pela nova capacidade de reproduzir a tocante canção da liberdade, na dança das fitas coloridas voando ao vento.


(Andra Valladares)

sábado, 27 de setembro de 2014

SINAIS




SINAIS


De modo recorrente, a tua imagem,
enreda-me em plena luz do dia.
Ofusca-me a luz dessa miragem,
esqueço-me de que a hora é tardia.

Sinais que não se prendem em segredos,
são estes que insistes me mostrar.
Botando a baixo todos os meus medos,
mostrando novo rumo p'ra trilhar...

Contudo, ainda ouço, lá no fundo,
uma voz, quase inaudível, a me chamar,
dizendo: "Não te vás, este é o teu mundo,
é a este amor que deves te entregar."

Demoro-me pensando em voar.
Já de partida, resolvo voltar
à vil rotina dessa amarga vida.

Lá fora, a lua brilha, me chamando,
mas neste breu acabo me perdendo,
até que um dia possa te encontrar.


(Andra Valladares)

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

DIVAGAÇÃO SOBRE O TEMPO (prosa poética)




DIVAGAÇÃO SOBRE O TEMPO


O que é o tempo? O que de fato representa? 

Não sei o que mede ou o que vale. Não sei se nos mede ou se nos vale.

Quanto tempo ainda nos resta? Quem sabe? Um dia? Um mês? Um ano? Duas décadas? Dez minutos? Quem garante?

Num simplório filosofar, apenas sabemos que a Sra. Morte anda sempre à espreita...

Às vezes nos poupa, mas quando decide não há apelação. É como se o tempo não existisse.

O que é o tempo? Quem sabe? O que de fato representa? 

Existe mesmo ou é fraude? 


(Andra Valladares) 
17/09/2014

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

C´EST LA VIE...



C´EST LA VIE...


O tempo escoa, urgente.
Não retorna, não espera,
esvai-se assim, de repente.

O mundo gira, inclemente.
Sem resposta, sem aviso,
revolve a vida da gente.

Tempo, mundo, vida, tudo...
Num círculo que se fecha,

seguem a mesma trajetória
com a rapidez de uma flecha. 

(Andra Valladares)
15/09/2014


Quando era adolescente, ouvi muito a música que segue no link acima. Sempre a achei linda, o solo de acordeon é sublime. 


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

SUPERLUA (tanka)





Surgindo no breu -
lembrou-me o fogo de um olhar
o luar de agosto.

No caminho acobreado
perdeu-se o meu coração...

(Andra Valladares)
(fotografia e tanka)

domingo, 10 de agosto de 2014

SAUDADES VIVAS





Saudades Vivas


Acácia, de verde nua,
restam-te apenas as flores
que se desgarram, enfim...
E um tapete aos teus pés,
lentamente vão formando.

Enquanto tu te desnudas
de tuas flores preciosas.
Enfeitas todo o jardim,
deixas a rua doirada,
perfumada de saudades...

Ah! Acácia, frondosa e bela!...
Ao espelhar-me em ti,
meu olhar triste revela
as flores que já perdi...

(Andra Valladares)


(*) Para todos aqueles que um dia fizeram parte da minha vida e que  hoje, mesmo em outro plano, ainda a perfumam com o aroma da saudade. Em especial para o meu pai, neste dia dos pais.

MANHÃ DESBOTADA (tanka)







Manhã desbotada -
o cacaueiro exibe
seus dourados frutos.

No pequeno lago, os peixes 
vislumbram um dia de sol. 




Foto e Tanka: Andra Valladares

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

SALTO NO ESCURO (miniconto)








SALTO NO ESCURO



Ela quebrara os grilhões que a prendiam a uma vida "normal" e desinteressante.

Primeiro, foi se desvencilhando, pouco a pouco, da carreira profissional. Há aproximadamente quinze anos, era essa a sua principal fonte de ansiedade, estresse e opressão. Até que largou de vez. “Nenhum dinheiro compra a minha paz”. Era a frase que sempre repetia em pensamento.

Seu casamento, que por mais de uma década havia sido bom, havia degringolado nos últimos anos. Assim, ela arrombara a porta da gaiola... Se por um lado perdeu certa “estabilidade e segurança”, por outro ganhou um céu azul e incontáveis árvores para pousar. Não havia como comparar uma coisa a outra. Alçou voo!

O resultado daquilo tudo, poderia parecer desastroso para quem visse de fora. Aos 42 anos de idade, época em que deveria estar com a vida “estabilizada”, ela havia acabado de "chutar o balde"... Estava separada e sem emprego. Todavia, ao contrário do que sempre imaginara, sentia-se confortável naquela situação. Agora tinha um mundo de possibilidades pela frente. Enfim, iria realizar seus sonhos com total liberdade. Estava feliz!

Enquanto pensava, distraidamente, olhava a televisão. Estava sendo veiculado um programa sobre esportes radicais. Por alguns instantes, observou aqueles jovens praticando diversas modalidades, como: voo livre, motociclismo, paraquedismo, rafting, rapel...

Então, teve um insight. Riu e falou alto: - Hahaha... Coitados, eles pensam que são "radicais"... Radical sou eu!


(Andra Valladares)



terça-feira, 5 de agosto de 2014

A MÚSICA POÉTICA E A POESIA MUSICAL




O repertório musical brasileiro possui incontáveis letras de músicas que podem ser qualificadas como verdadeiras poesias. Mas toda letra de música pode ser considerada uma poesia? O que difere a poesia da letra de música? Qualquer poema pode ser transformado em letra de música?


Existem várias possibilidades nesse sentido. Entendo que essas possibilidades surgem a partir da intenção. Pode-se compor um poema para uma melodia pronta, musicar um poema escrito ou, ainda, compor letra e música simultaneamente, conferindo à letra um enfoque poético. Assim, são formadas músicas com letras poéticas, ou música poética. Como pode-se, também, compor música e letra visando apenas o lado comercial, intenção essa que acaba gerando os hits de momento que fatalmente são esquecidos com o passar dos anos.

As músicas poéticas geralmente se tornam clássicos populares, pois, devido à sua construção melódica e literária, perduram no tempo e passam a fazer parte do cancioneiro musical de um país. O Brasil possui vários autores que compuseram canções imortais dessa maneira. Como exemplo, podemos citar Noel Rosa, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Cartola, Milton Nascimento, Dolores Duran, Chico Buarque. 

Quanto à musicalização de textos, é importante destacar que nem todo poema pode ser qualificado como poema musical. Não se pode musicar qualquer texto poético e obter resultados satisfatórios. Alguns fatores podem impossibilitar a composição de uma melodia para determinado poema. Entre esses fatores, podemos citar: a falta de musicalidade e/ou ritmo no texto; o tamanho do texto, pois os poemas muito extensos não são fáceis de musicar e os muito pequenos não possibilitam a construção de boas melodias; e o uso de linguagem muito rebuscada ou formal, pois o rebuscamento e a formalidade exagerados não combinam com a música popular e, mesmo quando esses poemas possuem ritmo e musicalidade, ao serem transformados em música, fica claro tratar-se de um “poema musicado”. 


Entendo que, em termos de estrutura, os sonetos são perfeitos para inspirar uma melodia. Por possuírem um tamanho adequado e serem metrificados, eles geralmente são dotados de uma musicalidade natural. Contudo, isso não quer dizer que todos os sonetos têm o condão de se transformarem em boas letras de música, ou que poemas isentos de métrica não possam ser musicados. 


Mesmo os poemas que não possuem métrica exata podem render ótimas letras. Isso pode ocorrer justamente porque a música é subjetiva e maleável, o que facilita trabalhar com ela. Para compor uma melodia, pode-se estender ou reduzir o tempo das notas, fazer pausas grandes ou pequenas, imprimir um andamento mais rápido ou vagaroso, ralentar o andamento, misturar ritmos... Existem muitas possibilidades e ferramentas para se criar uma boa melodia. Basta ter criatividade, conhecimento musical básico e senso estético. 


Um detalhe muito importante para quem deseja musicar um poema é que o compositor deve envolver-se pelo texto e se deixar levar pelo sentido e pela musicalidade natural dele, jamais devendo tentar “impor” a ele uma pré-determinada melodia e/ou ritmo. Isso geralmente não funciona. Talvez esse seja o maior desafio: não deixar transparecer que a música foi feita depois do poema. O ideal é que o resultado seja um “casamento perfeito” entre música e poesia, que dê a impressão de terem sido criadas simultaneamente, de maneira que, ao se escutar o trabalho, não seja possível identificá-lo como um “poema musicado”. O grande problema do poema musicado surge quando se torna possível perceber que a melodia e a letra não se encaixam perfeitamente, dando a impressão de estarem truncadas ou espremidas. 


Justamente por ser a música um elemento totalmente subjetivo e maleável, é muito mais fácil inserir a melodia em um poema do que escrever uma letra para uma melodia previamente composta, apesar de parecer o contrário. Para compor uma letra destinada a uma melodia pré-determinada, é necessário encontrar as palavras exatas, com mesma acentuação da frase melódica. Além disso, essas palavras devem formar frases com sentido literário. A letra deverá, também, captar o “sentido musical”. Se a melodia inspirar um sentido melancólico, o texto também deve seguir pelo mesmo caminho. Resumindo, não se trata de uma tarefa impossível, contudo, é bem mais trabalhosa que musicar um poema. 


Há muitos anos, tenho atuado na área literária e musical. Dessa forma, no tocante à musicalização de poemas, acredito que a experiência como poeta facilitou muito o meu trabalho, por me permitir reconhecer e captar rapidamente a musicalidade de um texto poético. Isso me levou a musicar poemas de diversos autores, como Florbela Espanca (“Maria das Quimeras” e “Amar!”), Mário Quintana (“Canção para Uma Valsa Lenta”), Castro Alves (“Canção do Violeiro” e um trecho do poema “Tragédia no Lar”), Carlos Drummond de Andrade (“Cidadezinha Qualquer”), Cecília Meireles (“Murmúrios”), dentre inúmeros outros poemas de autores desconhecidos do grande público. 


Reiterando o que foi dito, para conseguir musicar um poema, é fundamental perceber a musicalidade e o ritmo no texto. Para que a música realmente “convença” o ouvinte, é necessário, também, que o gênero musical escolhido seja compatível com o sentido do texto. Finalmente, minha recomendação para quem tem interesse em composição musical, seja escrevendo letras para música ou musicando poemas, é ficar atento ao sentido, à musicalidade e ao ritmo do texto ou da melodia que servirem como base, para que o resultado final seja um trabalho harmonioso, no qual letra e melodia complementem-se de maneira que ambas sejam devidamente valorizadas. 

(Andra Valladares)

terça-feira, 29 de julho de 2014

POESIA MINIMALISTA: O HAICAI E O POETRIX (Andra Valladares)



Um breve paralelo sobre as poesias minimalistas poetrixhaicai.

O poetrix e o haicai são duas modalidades literárias que à primeira vista parecem se confundir, dado o caráter minimalista de ambos. Contudo, os dois estilos são bem diferentes tanto pelos temas abordados, quanto pelas exigências ou não no tocante à métrica, título, utilização de rimas. Vejamos:



O HAICAI (OU HAIKAI)


O haikai é uma poesia tradicional japonesa que chegou ao Brasil no início do século 20, possui atualmente muitos adeptos em todo o mundo.

Escrever um haikai é um exercício de concisão e sobriedade. No haicai a simplicidade na forma de escrever é que se deseja, a poesia vem através das imagens captadas no presente. O haicai descreve um momento particular como se fosse uma fotografia daquele instante.

É um poema escrito em 17 sílabas poéticas divididas em três versos com  métrica 5-7-5, ou seja, o primeiro e último verso com cinco sílabas e o verso central com sete sílabas.  Contudo essa regra não é tão rígida, sendo admitida uma pequena alteração na métrica, contanto que a discrepância não seja muito grande.

No haicai são dispensáveis tanto o título quanto a rima. A rima pode existir caso ocorra de forma espontânea, mas não é muito bem vista entre os haicaistas. O título pode até existir baseado em alguma expressão ou palavra contida no haicai. Contudo, o título não pode ser vinculado ao entendimento do texto. O haicai deve ser entendido sem o título, caso contrário, não é considerado um haicai tradicional.     

O mais importante no haicai são os temas por ele abordados, versando principalmente  sobre as estações do ano e eventos da natureza. Também  podem versar sobre eventos festivos ou datas comemorativas, por serem, consequentemente, uma marca de determinada estação do ano.  

O haicai tradicional não versa sobre a natureza humana e seus sentimentos, análises psicológicas ou filosóficas.  

FONTES DE PESQUISA:
Haikai - Antologia e História (Paulo Franchetti, Elza Taeko Dói, Luiz Dantas), Editora da Unicamp
http://www.nippobrasil.com.br/zashi/2.haicai.mestres/semana.shtml

Alguns haicais de minha autoria: 


Tarde estival
o jardim seco embranquece
sob a geada. 


Colhidas no pé,
jabuticabas maduras
sabor de infância.




Severa estiagem
o pequeno boiadeiro
toca vacas magras.


Receita de inverno
no caderno da vovó - 
compota de nêspera.


Borbulhante canto,
entre vales e montanhas
serpenteia o rio.


Ecoa na concha
os sons da vida marinha -
grito da gaivota.


Silêncio na mata,
a casca presa na árvore
um dia foi cigarra.


Ao lado da ponte
a cássia imperial floresce,
quebrando o concreto.


Pousa a libélula
na blusa nova da avó -
broche natural.

Na tarde cinzenta,
cheiro doce na cozinha.
Bolinhos de chuva.

Boiando na enchente,
o automóvel destruído,
deixou prestações.

No final da tarde
surge em vivos tons dourados
a lua de outono.

O sol atinge o Zênite,
noites e dias iguais -
tempo de equinócio


O POETRIX

O poetrix é um movimento poético recente. "Nascido e criado no Brasil" foi assim denominado pelo poeta baiano Goulart Gomes, criador do termo poetrix, bem como, do Movimento Internacional Poetrix (MIP), grupo de poetas dedicados ao estudo e à criação e desenvolvimento do poetrix.

Com o advento da internet o poetrix difundiu-se rapidamente e atualmente também possui muitos adeptos pelo mundo. No ano de 2009 o poetrix completou dez anos de existência.

O termo poetrix significa poe (poesia) trix  (três), ou seja, uma poesia  escrita em uma única estrofe e com apenas três versos.  

O poetrix é uma poesia minimalista por excelência, por isso mesmo, o poetrixta deve-se procurar transmitir a mensagem com o mínimo de palavras possíveis, ou seja “quanto menor, melhor.”

Assim, o poetrix não possui métrica definida devendo ter, no máximo, trinta sílabas poéticas somando os três versos.  A utilização de rimas fica a critério do autor.

No movimento poetrix existem algumas variações como o tautotrix, acrostrix, duplix, triplix, dentre outras. Dentre elas destaco o palavratrix que é o mínimo do mínimo. Consiste em construir uma mensagem com apenas uma palavra fracionada.

No poetrix não há limitação de tema, sendo desejável um texto lapidado, com a utilização de figuras de linguagem, utilização de metáforas e sobretudo, que no último verso do poema tenha um elemento inusitado que fuja do senso comum.

No dizer de Goulart Gomes: “O haikai é uma pérola, o poetrix é uma pílula.”

As três coisas que devem ser evitadas no poetrix:

1 - Utilização de orações coordenadas – o poetrix não é uma frase dividida em três partes.

2 - Utilização de conjunções (mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto, não obstante) pois elas não fazem nenhuma falta no poetrix e, geralmente, empobrecem o texto.

3 - Forçar rimas – o poetrix não é trova. Às vezes pode-se construir um poetrix muito melhor trabalhando apenas o ritmo, a sonoridade e a riqueza semântica das palavras, não há obrigatoriedade de rimas no poetrix.


FONTE DE PESQUISA:
BULA POETRIX  ( http://www.movimentopoetrix.com )

Alguns poetrix de minha autoria: 


CORRENTEZA

Novas águas,
mesmas pedras.
Rio de mim...


LUA

Cheia de crescente orgulho
morre nova,
minguando...


DEPRESSÃO

Lágrima não é mar
mas seu sal revela segredos:
tristeza oceânica.


LAVADEIRA

Na beira do rio:
esfrega, bate, torce, canta...
Lava a alma!


ARÍETE

Meus muros,
Seus ataques,
Nossos cacos.


IN MEMORIAN

Vida bordadeira,
com pontos de cruz
orna nosso destino.


MEGA SENA

Povo sonhando,
de aposta em aposta,
dinheiro acabando...


MORDOMIA

Conta-corrente com saldo sinistro.
Ah! Como eu queria
cartão de crédito de ministro...


RIOCENTRO - 1981 (*)

Plano (im)perfeito
a bomba explode
(n)o governo militar.


(*) leia com e sem os parêntesis

Alguns palavratrix:


DEUS, NA CRIAÇÃO DO MUNDO... 

A
cor
dava.

(acordava)


MATUTO COM SAUDADE DE CASA

Fel
&
cidade

(felicidade)


DON JUAN

Dez
em
cantada!

(desencantada)


PENTEADO MALFEITO

Cacho
e
ira.

(cachoeira)

  

MÚSICA AMBIENTE

na
ceia

(panacéia)



PAIXÃO É ROLO... 

Amar
é
linha...

(amarelinha)