Escrevi esse poema no dia do falecimento desse grande poeta. Esse era o dia do Sarau Domingo Poético na Academia de Letras de Vila Velha, que sempre ocorre no primeiro domingo de cada mês. Eu queria fazer uma homenagem a Ferreira Gullar e levei alguns poemas dele. Mas também queria algo especial, e acabei escrevendo o poema enquanto transcorria o sarau. Quando fui chamada para declamar, já estava finalizado.
Blog destinado a divulgar o trabalho literário e musical da cantora, compositora e poeta Andra Valladares, além de informações culturais, especialmente sobre música e poesia.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
quarta-feira, 15 de junho de 2016
MOSAICO (poema)
M O S A I C O
Algumas vezes os olhos não veem.
Mas a psique percebe
o que está muito além...
Mínimos detalhes, olhares, palavras,
atos voluntários, e falhos, também.
Na sincronia dos fatos,
é desnecessário “ver para crer”.
Os sinais são captados e encaixados,
como sutis peças num mosaico.
E na tradução da alma, com calma,
imagens diversas vão se formando...
De sonhos, amor, dor, desilusão,
e outras infindas, que vêm de roldão.
Ora sorrisos, ora lágrimas.
Ora irrefutável clarivisão
que irrompe na tela da vida.
Revelando paisagem de encontro,
ou cenário de despedida...
Andra Valladares
14/06/2016
terça-feira, 3 de maio de 2016
(EN)CANTAR (miniconto)
(EN)CANTAR
Tentando controlar a respiração descompassada, ela segue, da coxia para o palco. Sente na boca um estranho sabor agridoce decorrente da mistura do suspense com a adrenalina.
Os
holofotes acendem. Sente-se frágil. Iluminada. Sozinha. No centro de tudo, enfrentando
a plateia. Cada mínimo gesto, sob a mira de centenas de olhares a desnudá-la o
corpo, a alma e o coração. Exposta sob todos os ângulos e sentidos. Seu corpo
inteiro pulsa.
Iniciam
os primeiros acordes e ela desperta do torpor inicial. Dá um passo à frente,
controla o diafragma, segura o microfone. Inspira profundamente.
A
música, invadindo seus ouvidos, lhe traz o bálsamo da leveza... Eis que chega a hora de suplantar a insegurança e encantar. Fecha os olhos. Entra no seu universo interior. Ali está segura. Não precisa mais pensar, tornou-se um
instrumento de sopro. Abre a boca e solta o som vibrante que lhe vem ecoando
por todo o corpo. Estremece. Todos os seus pelos eriçam. Lá dos recônditos da alma, acende a luz que lhe traduz a certeza de que nasceu para cantar.
Ali,
sozinha e hermética, ela enxerga o tom de cada nota que lhe escapa. Vai
colorindo os sons, acendendo palavras, traduzindo ritmos e libertando-se em
gestos.
Então,
já pode abrir os olhos sem receio. Agora brilha mais que os holofotes.
Andra Valladares
terça-feira, 26 de abril de 2016
Incompatibilidade de Gêneros
INCOMPATIBILIDADE DE GÊNEROS
Nos obscuros recônditos do ego,
apenas uma sombra sob os pés, ele almejava.
Para seguir em par e paz, na sua estrada.
E ela fazia o que sabia. Então, brilhava...
Não era sombra, nem escuridão,
mas fragmento de constelação.
Naturalmente reluzia... Era amor, calor, poesia!
Assim, nos desencontros, se afastaram.
Cada qual no seu caminho, prosseguiu.
Na luz que ela emanava, sua sombra ele viu.
Ela avançou na escuridão, luzindo sempre.
E sorriu ao perceber que, logo em frente,
outra luz a aguardava, mansamente...
Texto: Andra Valladares
** todos os direitos reservados **
Imagem obtida na internet, autor desconhecido
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segunda-feira, 4 de abril de 2016
SIGNOS
SIGNOS
Você me
disse que era fogo
e que em
ti, tudo ardia...
Suas chamas
aumentavam
no embalo
da noite fria.
Mas
querido, eu sou do ar...
Ora corro
em demasia,
ora sou
brisa, poesia,
ou posso
tudo arrasar...
Ah... O ar
é imune à chama.
Mas o
contrário, meu bem,
é onde tudo
funciona.
Pois o ar,
o fogo inflama...
Com um bom
sopro, ele atiça.
Se for
bastante, incendeia.
Se o ar
acaba, do fogo,
não resta
sequer a brasa!
Traz seu
fogo! Que lhe dou o ar!
Na medida
exata, para que arda e sinta...
Meus beijos
de brisa, acendendo a chama.
Minhas mãos
de vento, atiçando o fogo.
E o meu
furacão, em mil fagulhas,
Desfazendo-te...
Arrancando-te do chão.
E te arrastando
ao Paraíso
sublime e
ardente da paixão.
Andra Valladares
segunda-feira, 21 de março de 2016
A NOITE PERFEITA
Sabe aquela noite perfeita?! Ah...
Ontem eu tive uma e vou contar aqui para quem quiser ler.
Para termos uma noite perfeita, precisamos estar
na companhia de alguém especial. E isso eu tive...
Estava em casa, me sentindo um pouco angustiada, e resolvi caminhar. A noite estava muito agradável, brisa fresca, um belo luar, a
água do mar transparente. Caminhei bem na beirinha da praia, com os pés na água
e cantando. Pois é, ontem eu cantei pra mim... E foi tão bom! Foram várias
músicas da MPB, alternando também com o mantra budista "Om Mani Padme Hum", com
uma melodia que eu mesma criei. Ficou parecendo uma canção de ninar e isso me
acalmou.
Por aproximadamente uma hora, caminhei e cantei, e já estava me
sentindo melhor depois disso. Mas também necessitava silenciar, minha cabeça estava acelerada, repleta de pensamentos dos mais
diversos.
Naquele horário, a maré estava bem
baixa. De repente, cheguei perto de uma pedra e, simplesmente, me conectei
àquele lugar perfeito. Dava para ver as algas e a areia sob a água límpida. Assim,
quando dei por mim, havia iniciado uma meditação em pé, com a água do mar batendo no
meio das canelas.
Rezei, semicerrei os olhos e fui mentalizando que cada
onda que chegava até mim trazia boas energias, enquanto as águas que retornavam carregavam as
energias ruins. Fiquei aproximadamente quinze minutos nesse estado meditativo. A água estava transparente
e numa temperatura tão boa que, no final, a minha vontade era de mergulhar com
roupa e tudo.
Esse momento foi bastante agradável e proveitoso, me senti bem mais leve. Contudo, ainda não havia conseguido atingir o silêncio
interior.
Então, procurei outro lugar agradável para sentar e iniciei a meditação na posição tradicional de meio lótus. Assim permaneci por uns quarenta minutos. Foi bastante custoso. Minha mente parecia não querer contribuir, a todo momento um pensamento oportunista atrapalhava minha conexão. Todavia, não desisti. Depois de um bom tempo, finalmente, consegui silenciar.
Então, procurei outro lugar agradável para sentar e iniciei a meditação na posição tradicional de meio lótus. Assim permaneci por uns quarenta minutos. Foi bastante custoso. Minha mente parecia não querer contribuir, a todo momento um pensamento oportunista atrapalhava minha conexão. Todavia, não desisti. Depois de um bom tempo, finalmente, consegui silenciar.
Apenas quem já meditou ao
ponto de alcançar esse silêncio interior, pode ter ideia da profunda sensação
de paz que brota na alma quando conseguimos atingi-lo. Todos os problemas são
dissolvidos, passa existir apenas o momento presente. Contudo, um momento
presente que quebra as barreiras do tempo e do espaço. Além disso, também ocorre a indescritível sensação de sentir-se conectado
ao “todo” que nos envolve.
Um momento de meditação profunda é um resgate, um
contato com nosso Eu Superior. Não é uma visão fantasiosa da
realidade. É a realidade sob uma outra ótica de ver e sentir o mundo. É sentir a vida pulsante que reside em nós e geralmente nem percebemos.
Assim foi essa noite perfeita. Um
precioso momento de diálogo com minha essência, num breve contato com o meu Eu Superior.
Voltei para casa leve, leve... Sentindo-me
plena e em paz.
"As palavras podem dizer muito,
mas o silêncio é um saber infindo..."
Eu amo o silêncio.
Namastê!
Andra Valladares
quarta-feira, 16 de março de 2016
sábado, 12 de março de 2016
sexta-feira, 11 de março de 2016
NEM TUDO É MATÉRIA
FOTOGRAFIA: VINÍCIUS MARTINS FERREIRA
NEM TUDO É MATÉRIA
Ah, essa química...
Transformou minha biologia,
Transformou minha biologia,
refutando as probabilidades matemáticas.
E me fez romper com as leis da física,
retrocedendo os ponteiros do tempo.
No enredo dessa história,
mapeando nossa geografia,
no percurso das línguas, vem...
Tecendo nova filosofia
em gestos, olhares, sorrisos,
a cada palavra e silêncio.
Ah, essa química... Alquímica...
Que transmuta areia em vento,
rocha em ouro, gelo em fogo...
Revela que nem todo o conhecimento,
é capaz de traduzir, mensurar ou explicar,
o grande enigma do amor.
Andra Valladares
** todos os direitos reservados**
quarta-feira, 9 de março de 2016
A FÊMEA QUE ME HABITA
A FÊMEA QUE ME HABITA
Talvez possa vir como a brisa...
Ou, quem sabe, um furacão?
Num dia, desabrochar flor.
Noutro, bala de canhão.
Com garras e dentes de onça,
disfarçada de gatinha.
Empodero-me mulherão,
e às vezes, basta-me a mulherzinha.
Se a Grande Mãe me habita
com útero e seios de luz.
Sua sombra insana transmuta-me
em devoradora, à contraluz.
Tão inconstante e sensível,
rimando até amor com dor.
Sou mulher, mistério indizível.
Um ser místico, mítico, incrível,
de inestimável valor.
Andra Valladares
08/03/2016
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