quinta-feira, 8 de março de 2018

SER MULHER...




SER MULHER...


Ser mulher é nascer num tribunal,
na mira de julgamentos incongruentes.
E receber sentenças paradoxais,
tanto piegas, quanto discriminatórias.
É ter, em sua direção,
dezenas de dedos apontados
ao pisar “fora da linha”.
Ser “santa mãe”, se for casada,
mas “fácil demais”, se for sozinha.
Mulher é bicho maquiavélico,
capaz de dar o “golpe da barriga”
em machos tão ingênuos...

Mulher que é mulher,
tem que ter muito peito!
De silicone.
Pois ou “outro” é coisa de feminista.
E essas tais feminazis são vagabundas,
que só sabem se exibir em passeatas
mostrando os peitos e a nudez
para chocar a sociedade,
tão casta e justa,
com questões absurdas
contra as regras vigentes e bons costumes.

Ser mulher é ter muitos homens,
contra si, e muitas mulheres também.
Mulher tem que ser sensual,
mas na medida certa, ideal.
Senão vira safada e puta.
Ninguém aguenta tanta imoralidade
desfilando pelas ruas!
Atiçando os “pintos nervosos”
que se contorcem nas calças
e obrigam seus "donos" a proferirem
cantadas escrotas, piadinhas imorais
e assédios "consentidos".
E algumas vezes, pasmem,
até cometer estupro!
Ah, pobres machos, indefesos...

Mulher tem que pensar...
No marido, nos filhos, na casa
no que vai fazer para o jantar.
Fora isso, mulher que pensa demais
só comete insensatez e diz barbaridades.
Mulher tem que ser mulherão,
de corpo perfeito, boa de cama...
Mas no resto, melhor que seja
mulherzinha, frágil e insegura,
que tenha medo de ficar só
e andar com as próprias pernas.

Mulher tem que ser uma dama,
não fazer escândalos,
fingir que não vê certas coisas...
Traição é coisa de "macho",
está no sangue, na genética.
Mulher tem que ser quase santa,
leve, linda, casta,
puro perdão e dedicação.
Mulher que se preze,
jamais diz palavrão
isso é coisa de vadia...
Mulher sozinha é encalhada,
mal amada, é a que ninguém quis...
Se diz que é sua escolha...
Ha...ha...ha... É mentira da infeliz!

Mulher tem que ser muito zen, senão é louca!
E nem vem com essa de TPM, é desculpa!
Algumas mulheres fazem de tudo, de tudo MESMO,
pra apanhar, e algumas até gostam!
Elas adoram machos estúpidos e explosivos
que sabem impor respeito
na base da perseguição e da ameaça.
Por isso morrem...
São culpadas por morrer,
elas procuram e provocam!

E a mulher profissional?
Essa tem que ter muito preparo, estudo,
e ainda assim, menos valor.
Tem que trabalhar mais
e ganhar menos, pra “compensar”.
Se for chefe, deve ter suavidade
e saber se impor, armando-se
com técnicas sutis e avançadas
de "convencimento disfarçado".
Pois “macho que é macho”
não recebe “ordem” de mulher!
E algumas mulheres também,
só recebem bem ordens de macho.

Achou exagerado e vulgar?
Pois direi o que que é mais indecente:
numa sociedade machista e bipolar,
ser mulher, é ter garra e sorte
pra manter-se sobrevivente.

Andra Valladares
08/03/2018

segunda-feira, 24 de abril de 2017

SINCRONICIDADE (crônica)




SINCRONICIDADE


Essa é uma história verídica, sei que para alguns vai parecer mentira, mas não é.

Na sincronicidade que move o universo, recebi da natureza a resposta imediata mais impressionante da minha vida. Tanto é, que até hoje me arrepio quando lembro desse fato.

Eu era adolescente, estava passando as férias de verão na casa de praia da minha tia, no Balneário de Ponta da Fruta, Vila Velha/ES. Ao lado da casa havia uma castanheira e num dos seus galhos, havia um ninho de passarinho.

Era final de tarde, meu pai havia parado o carro bem debaixo do galho da castanheira em que estava o ninho. Eu estava escutando músicas dentro do carro, sentada no banco do motorista. Então, começou a tocar na rádio a música “Dona”, um sucesso da época, interpretada pela banda Roupa Nova.

Eu estava cantando e, pela primeira vez, prestando atenção na letra da música, até que chegou na parte que dizia: “... entre a cobra e o passarinho, entre a pomba e o gavião, ou seu ódio ou seu carinho nos carregam pela mão...”.


Daí, eu me perguntei: O que quer dizer “entre a cobra e o passarinho, entre a pomba e o gavião”?

No instante em que acabei de me perguntar, caiu um filhote de passarinho no capo  do carro, bem na minha frente. Tomei um susto, ele parecia atordoado. Inclinei o corpo para perto do volante e olhei para cima, onde estava o ninho, sobre o carro. Então, fiquei chocada, ao ver que havia uma cobra pendurada no galho da árvore, com um outro filhote de passarinho na boca. Saí do carro correndo e gritando.

Minha pergunta havia sido respondida da forma mais surpreendente possível: “Entre a cobra e o passarinho entre e pomba e o gavião”, quer dizer que a natureza pode ser tão bela quanto brutal.   




Quer saber mais sobre a sincronicidade? Acesse o link abaixo.  https://pt.wikipedia.org/wiki/Sincronicidade

quarta-feira, 1 de março de 2017

A TARTARUGUINHA (tanka)



Muito feliz com esse trabalho em parceria com o fotógrafo 
Léo Merçon, idealizador do Instituto Últimos Refúgios.

http://www.ultimosrefugios.org.br/


quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

CANÇÃO DE DEZEMBRO (a Ferreira Gullar)



Escrevi esse poema no dia do falecimento desse grande poeta. Esse era o dia do Sarau  Domingo Poético na Academia de Letras de Vila Velha, que sempre ocorre no primeiro domingo de cada mês. Eu queria fazer uma homenagem a Ferreira Gullar e levei alguns poemas dele. Mas também queria algo especial, e acabei escrevendo o poema enquanto transcorria o sarau. Quando fui chamada para declamar, já estava finalizado. 

quarta-feira, 15 de junho de 2016

MOSAICO (poema)



M O S A I C O



Algumas vezes os olhos não veem.
Mas a psique percebe
o que está muito além...
Mínimos detalhes, olhares, palavras,
atos voluntários, e falhos, também. 
Na sincronia dos fatos,
é desnecessário “ver para crer”.
Os sinais são captados e encaixados,
como sutis peças num mosaico.
E na tradução da alma, com calma,
imagens diversas vão se formando... 
De sonhos, amor, dor, desilusão,
e outras infindas, que vêm de roldão.
Ora sorrisos, ora lágrimas. 
Ora irrefutável clarivisão
que irrompe na tela da vida.
Revelando paisagem de encontro,
ou cenário de despedida...


Andra Valladares
14/06/2016

terça-feira, 3 de maio de 2016

(EN)CANTAR (miniconto)



(EN)CANTAR



Tentando controlar a respiração descompassada, ela segue, da coxia para o palco. Sente na boca um estranho sabor agridoce decorrente da mistura do suspense com a adrenalina.

Os holofotes acendem. Sente-se frágil. Iluminada. Sozinha. No centro de tudo, enfrentando a plateia. Cada mínimo gesto, sob a mira de centenas de olhares a desnudá-la o corpo, a alma e o coração. Exposta sob todos os ângulos e sentidos. Seu corpo inteiro pulsa.

Iniciam os primeiros acordes e ela desperta do torpor inicial. Dá um passo à frente, controla o diafragma, segura o microfone. Inspira profundamente.

A música, invadindo seus ouvidos, lhe traz o bálsamo da leveza... Eis que chega a hora de suplantar a insegurança e encantar. Fecha os olhos. Entra no seu universo interior. Ali está segura. Não precisa mais pensar, tornou-se um instrumento de sopro. Abre a boca e solta o som vibrante que lhe vem ecoando por todo o corpo. Estremece. Todos os seus pelos eriçam. Lá dos recônditos da alma, acende a luz que lhe traduz a certeza de que nasceu para cantar.

Ali, sozinha e hermética, ela enxerga o tom de cada nota que lhe escapa. Vai colorindo os sons, acendendo palavras, traduzindo ritmos e libertando-se em gestos. 

Então, já pode abrir os olhos sem receio. Agora brilha mais que os holofotes. 


Andra Valladares
06/03/2015





terça-feira, 26 de abril de 2016

Incompatibilidade de Gêneros



INCOMPATIBILIDADE DE GÊNEROS

Nos obscuros recônditos do ego,
apenas uma sombra sob os pés, ele almejava.
Para seguir em par e paz, na sua estrada.
E ela fazia o que sabia. Então, brilhava...
Não era sombra, nem escuridão,
mas fragmento de constelação.
Naturalmente reluzia... Era amor, calor, poesia!
Assim, nos desencontros, se afastaram.
Cada qual no seu caminho, prosseguiu.
Na luz que ela emanava, sua sombra ele viu.
Ela avançou na escuridão, luzindo sempre.
E sorriu ao perceber que, logo em frente,
outra luz a aguardava, mansamente...


Texto: Andra Valladares
** todos os direitos reservados **

Imagem obtida na internet, autor desconhecido

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segunda-feira, 4 de abril de 2016

SIGNOS

SIGNOS


Você me disse que era fogo
e que em ti, tudo ardia...
Suas chamas aumentavam
no embalo da noite fria.

Mas querido, eu sou do ar...
Ora corro em demasia,
ora sou brisa, poesia,
ou posso tudo arrasar...

Ah... O ar é imune à chama.
Mas o contrário, meu bem,
é onde tudo funciona.
Pois o ar, o fogo inflama...

Com um bom sopro, ele atiça.
Se for bastante, incendeia.
Se o ar acaba, do fogo,
não resta sequer a brasa!

Traz seu fogo! Que lhe dou o ar!
Na medida exata, para que arda e sinta...
Meus beijos de brisa, acendendo a chama.
Minhas mãos de vento, atiçando o fogo.

E o meu furacão, em mil fagulhas,
Desfazendo-te... Arrancando-te do chão.
E te arrastando ao Paraíso
sublime e ardente da paixão.



Andra Valladares