terça-feira, 9 de abril de 2013

POEMAS DE MANUEL BANDEIRA




VELHA CHÁCARA

A casa era por aqui... 
Onde? Procuro-a e não acho. 
Ouço uma voz que esqueci: 
É a voz deste mesmo riacho. 

Ah quanto tempo passou! 
(Foram mais de cinqüenta anos.) 
Tantos que a morte levou! 
(E a vida... nos desenganos...) 

A usura fez tábua rasa 
Da velha chácara triste: 
Não existe mais a casa... 

- Mas o menino ainda existe. 



SONETO INGLÊS Nº1 

Quando a morte cerrar meus olhos duros 
- Duros de tantos vãos padecimentos, 
Que pensarão teus peitos imaturos 
Da minha dor de todos os momentos? 

Vejo-te agora alheia, e tão distante: 
Mais que distante - isenta. E bem prevejo, 
Desde já bem prevejo o exato instante 
Em que de outro será não teu desejo, 

Que o não terás, porém teu abandono, 
Tua nudez! Um dia hei de ir embora 
Adormecer no derradeiro sono. 
Um dia chorarás... Que importa? Chora. 

Então eu sentirei muito mais perto 
De mim feliz, teu coração incerto.



O RIO

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.



O IMPOSSÍVEL CARINHO

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!





VERSOS ESCRITOS N'ÁGUA

Os poucos versos que aí vão,
Em lugar de outros é que os ponho.
Tu que me lês, deixo ao teu sonho
Imaginar como serão.

Neles porás tua tristeza
Ou bem teu júbilo, e, talvez,
Lhes acharás, tu que me lês,
Alguma sombra de beleza…

Quem os ouviu não os amou.
Meus pobres versos comovidos!
Por isso fiquem esquecidos
Onde o mau vento os atirou.





Nenhum comentário:

Postar um comentário